Exalo Todo Ar que Tenho Dentro de Mim

Exalo todo ar que tenho dentro de mim

Deixo-me vazio em fôlego agonizante.

Limpo minhas entranhas assim

Como quem espera aflito visitante.

Faço pacto de não respirar

O alento que me mantem vivo

Do ar comprometo-me em jejuar

Esta promessa louca eu crivo.

Sinto então a vida me escapar

Na intensa vazão de meu Ser.

Sinto então a vida flutuar

Agora em nenhum sentido ser.

O tempo passa logo

Cada segundo é uma morte.

Roxo moribundo rogo

Brado em voz muda mas forte,

O fim desta tortura louca,

Assim na secura da boca.

Sim, segura a voz rouca,

Em mim é dura a cabeça oca,

Pode imaginar esta promessa,

Que à loucura me arremessa?

Nem iogue de consagrado domínio,

Faria esse compromisso de fascínio!

Para mim agora não importa mais o respirar

O vácuo iluminador brilha em meu interior,

Resistência e consciência vem me sustentar,

Anestesiado estou em meu torpor!

Com visão escura e sem movimento algum

Cada membro parado, um por um,

Espero sem esperar, vivo sem viver

Nada importa, nada tem razão de ser...

Gélido, pálido, anóspito, intrépido,

Entregue, totalmente crépido...

Mas no lugar da extrema unção,

Um Anjo Divino me pega pela mão,

Me leva, quase dormido ao paraíso,

Morto estou, já no dia do juízo?

Terei que prestar contas do erro fatal?

Passarei pelo inventário do bem e mal?

Ele me deita carinhosamente num lugar

Me diz que chegou a hora de me aliviar,

Enfim a salvação que irá me salvar...

Sim, meu coração não irá parar...

Meus olhos turvos se abrem um pouquinho...

O feixe de Luz entrada devagarinho...

Uma miragem se apresenta e eu me aguento,

Uma leve aragem me levanta em seu alento,

Não se descreve esse alguém de santa ternura,

Que me serve sacando muito bem tanta amargura,

Que no vazio sequido de meu peito existia,

Tira-me o bravio de quanta rebeldia,

Tirana serva de meu ego indissolúvel,

Ama que não nego, me deixa volúvel!

Agora, em boa hora com seu sopro me salva,

Transmuta meu cinza apático em cor alva,

Com seu Amor infinito que me permeia,

Renovando meu viver e luz semeia

À minha consciência quase esquecida,

Com ciência minha Alma fica aquecida.

Humidece minha boca seca com vinho.

Vinho doce de seu beijo quentinho,

Abraça-me aconchegando-me em seu peito,

Carícias revigoram-me em mágico efeito,

Meu olhar agora busca já enxergando bem,

Quem será este Ser salvador, este alguém?

Revelam-se, seus olhos verdes ternos,

Mostram-me nossos elos eternos,

A felicidade toma conta de nosso abraço,

Agora vejo perfeitamente seu traço,

É você eternamente querida e amada,

Voltou pra mim como Anjo embalada

Na compaixão de meu sofrimento,

Na compreensão de meu tormento,

Percebeu quão sentimento,

Fez eu dizer não ao alento.

Viu que minha vida sem você não vale,

Sentiu minha vida como seco vale,

Sem seu Amor presente...

Com a dor serpente

Que envenena minha mente,

Tira de cena o que se sente,

Vira a antena, me deixa ausente,

Concatena com a podre semente,

Tira a forma serena veemente,

Cria a auto pena e mente,

Lubridia, acena aparentemente

A agonia plena de um demente...

Doce salvadora, Anjo de Deus!

Revigoro-me nesse avesso adeus,

Fusiono-me em seu sentir,

Acredito agora no porvir...

Suspiro aliviado com você,

Neste momento sagrado,

Tudo que agora você vê,

É de nosso total agrado.

Salvou-me da morte certa,

Responsável é pela minha vida!

Que com a sua agora vemos aberta,

A tão sonhada senda prometida!