SER E TEMPO

Ao vagar do tempo eu vou indo.

Caminho em direção às horas,

atravesso os minutos num segundo

e preencho a eternidade de um dia.

Cada dia é como um ano

e o ano se desdobra em século.

Chego rapidamente ao milênio,

mas não consigo atingir a Eternidade.

Vagar no tempo é algo inquietante:

em segundos se percorrem milênios

e percorrer apenas um segundo

parece levar mais de mil anos!

É o tempo mental do Ser,

que indoutos chamam de humano;

é a apoteose temporária do Ente,

que se perde em seus próprios segundos.

Creio que bilênios levarão o Ser

ao encontro das migalhas do tempo

que se esvaíram da imensidão da alma

como lágrimas que caem de olhos lacrimejantes.

Somente a Eternidade responderá 

as questões cruciais do Ser em ebulição,

perdido em suas inquietações,

o espírito formigante de dúvidas.

Sou de fato humano,

ou apenas me deixo estar

nesta qualidade, humana chamada,

que me oprime o ser?

A resposta virá ao bailar do tempo

quando da ampulheta da vida

baixar o último grão de areia

que envolverá num manto o humano ser.

Assim, que se vire a página da vida,

enquanto considerada apenas matéria,

e que se inicie o próximo capítulo,

que preencherá espiritualmente o ser.