Maioridade

Primeiro me apresentaram nuvens de algodão doce

me mostraram estradas de tijolos amarelos

me disseram que se andasse embaixo de sol, não haveriam lobos à espreita.

Mas o sol logo se foi

e a estrada dourada se tornou um beco escuro

O caminho terminou 'ao pé de uma parede sem porta'

Não havia como seguir...

E a escuridão me impedia de voltar.

O sol não nasceu de novo, e se nasceu não percebi.

Sentei e esperei e perdi a conta dos dias

até que chegaram com lanternas gritantes aos olhos

em questão de minutos pintaram portas nas paredes

e me apresentaram meu ponto de partida...

mas logo vi que se tratavam apenas de portas partidas

Partidas portas pintadas

e que a parede nunca fora quebrada

embora fosse feita do que de quebrado em mim havia

Mesmo assim encarei e subi o muro

e do outro lado vi um quadro preto e branco mofado

um mundo, mumificado, embalsamado, mas morto

Pessoas partidas pintadas simetricamente

como se Rafael fosse deus.

E como um pingo indesejado de tinta

caí sem querer e me fiz o defeito do quadro

eu e mais tantos outros respingados na limpeza do papel

Um mal necessário à pintura...

Não digno de interpretações

E é como se eles soubessem

mas insistem em apresentar

parafernálias pintadas

espelhos que não refletem

tecidos sem cor

Insitem

e quanto mais insistem a bruma se adensa

a escuridão fica mais irritante

e minha parede cada vez maior.