Homem de poucas palavras

Levanta-te, ó homem de poucas palavras

Rompe com os rumores de que só quem fala tem o direito de dizer

Quanto tempo serás julgado por sentir calado em seu próprio cais?

Embora despeje em sua jornada mudez e repouso o seu ser é existente

Somente aquele cuja veste de julgamento for rompido é que ouvirás o som da tua fala

Aquele entenderás que o teu silêncio não é devido a entoação de patologias e indiferenças

Só é a tua alma que voa

Tu que cura a sua própria loucura e dá sentido a sua linguagem

Nada gira em torno da enfermidade

O teu silêncio é quem observa os montes verdejantes da primavera

O teu amor não é dito e reescrito por poucas palavras

Ó amante, tu amas quando toca os lábios e sente a pele

Tu amas quando se coloca a dispor do outro com a sensibilidade de um monge

Tu enxergaste amor nas frutas, nos animais, nas crianças e nas rugas

Mas aqueles que de longe abstenham-se da sua língua

Nunca compreenderam como és o teu amor

Só o amado é quem vive, as palavras estão mortas.

Tu sabes, ó homem de poucas palavras, porque teu espelho não reflete aos outros?

Porque o teu mistério é atormentador e o teu silêncio indecifrável

Poucos sabem que uma rocha exala poesia

Poucos sabem que uma rocha tem seu valor

Dentro deste mundo há outro mundo aquém das palavras

Dentro do silêncio há a purificação dos sentidos

Ó homem silencioso, até as máquinas falam

E você nessa sua quietude exala a pureza dos sentidos

Já que tenham milhões de vozes a seu redor, tu vieste escolher o que mais te conforta

A mudez de uma rosa que fenece num campo de vozes.

Rafaela Romero
Enviado por Rafaela Romero em 03/05/2018
Código do texto: T6325885
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