Última metáfora

Bateu-me à porta, torta e sorridente,
empunhando uma foice, velha e suja,
a famosa megera, a dita cuja,
que nos traz o futuro permanente.

E bateu outra vez e, novamente…
e mais uma, mais duas… na terceira,
escolhi uma tora de madeira
e me pus a fitá-la frente a frente.

A distinta senhora então me disse:
há momentos, poeta, na velhice,
já previstos durante a criação,

que a matéria precisa repousar.
E se foi, sem dar bolas pro azar,
como fosse andorinha no verão.

Me deixou duas contas pra pagar
uma em nome de Deus, outra do cão.

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 30/01/2021
Reeditado em 28/11/2021
Código do texto: T7172366
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