Perfume

Há um perfume que me visita,

já há algum tempo aparece,

algumas noites me rodeia,

ás vezes na sala,

ás vezes no quarto,

parece me seguir,

invisível, não é meu,

moro só, não é da rua,

não vem com o vento,

já abri a janela para buscar,

é uma fragrância adocicada,

meio frutada, algodão doce,

não saberia identificá-lo,

nunca o senti antes em alguém,

e a natureza nunca me favoreceu,

minha rinite sempre me confunde,

mas não espirro ou coço o nariz,

o perfume me visita sempre à noite,

me pergunto qual anjo está comigo,

se fosse arder no inferno seria enxofre,

mas é um perfume que me abraça,

um perfume que me acolhe e acalma,

um perfume que me faz sorrir,

me sinto em segurança nele,

não sei quem mas apostaria uma moeda,

e talvez ela tenha me sentido tão fragmentado,

talvez esteja aqui para me avisar que a vida continua,

mesmo depois do derradeiro final sem explicações,

que somos somente sopros de uma existência frágil,

uma taça de cristal que se parte por descuido,

um biscoito de massa fina que se esfarela,

um suspiro que derrete com as gotas da chuva,

e mesmo assim, talvez exista um depois,

não o depois de religiões e pessoas fanáticas,

não o depois apocalítico que julga e condena,

só um depois que nos visita e assopra bem estar,

não preciso entender, no fundo eu sei quem é,

e sorrio todas as vezes que o perfume surge no horizonte...