Atro

O ocaso derrama na tarde incompleta

Um manto noturno de cor violeta

No firmamento cruzam cometas

Constelações que cospem gametas

Engravidam-se signos com mortais piruetas

Irrompe o mar o sol de Regência

No ventre das cores de matizes magenta

Escala os céus de anis opulências

A indelével manhã revela a existência

Dessas alvas nuvens que se dissolvem lentas

A noite se foi para o outro lado do mundo

Despertou suas luas a espiar o crepúsculo

Nas ardilosas rapinas nos descampados profundos

Assaltos inférteis nesses vácuos rotundos

Liquefazem os ossos dos meus submundos

O dia descerra a luz nas campinas

Um clarão que se esconde atrás das cortinas

Que cega de brilho as cruas retinas

Injeta agulhas que curam vacinas

Nos olhos inchados de quem vaticina

Volta a tarde a trazer mil fantasmas

De asas caídas que assombram caçadas

Nos territórios afora de minhas alçadas

Sobrevôo a deixar solitárias pegadas

Nessas ruas calçadas de noites descalças

Nas portas que cravam seus dentes na presa

Pelas gretas que dobram os papéis na gaveta

Com as linhas em branco onde navegam canetas

Liberto, afinal, os meus breus pensamentos

E expurgo de todo meus atros momentos.

Fábio Pirajá
Enviado por Fábio Pirajá em 06/02/2008
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