Atro
O ocaso derrama na tarde incompleta
Um manto noturno de cor violeta
No firmamento cruzam cometas
Constelações que cospem gametas
Engravidam-se signos com mortais piruetas
Irrompe o mar o sol de Regência
No ventre das cores de matizes magenta
Escala os céus de anis opulências
A indelével manhã revela a existência
Dessas alvas nuvens que se dissolvem lentas
A noite se foi para o outro lado do mundo
Despertou suas luas a espiar o crepúsculo
Nas ardilosas rapinas nos descampados profundos
Assaltos inférteis nesses vácuos rotundos
Liquefazem os ossos dos meus submundos
O dia descerra a luz nas campinas
Um clarão que se esconde atrás das cortinas
Que cega de brilho as cruas retinas
Injeta agulhas que curam vacinas
Nos olhos inchados de quem vaticina
Volta a tarde a trazer mil fantasmas
De asas caídas que assombram caçadas
Nos territórios afora de minhas alçadas
Sobrevôo a deixar solitárias pegadas
Nessas ruas calçadas de noites descalças
Nas portas que cravam seus dentes na presa
Pelas gretas que dobram os papéis na gaveta
Com as linhas em branco onde navegam canetas
Liberto, afinal, os meus breus pensamentos
E expurgo de todo meus atros momentos.