MUITO ALÉM DE MIM MESMO

Muito Além de Mim Mesmo

Deve ser muito tarde para existir

Nesses tempos de pânico e de horror

Talvez eu devesse existir muito antes

Num outro tempo, outra época

Outra dimensão.

Aqui é tarde e muito triste viver

Tempo de pântanos tenebrosos

Talvez eu não devesse ter nascido aqui

Mas num campo de girassóis alaranjados

Muito além do farol do fim do mundo.

Tarde e triste e eu ainda escrevo

De alguma maneira fugindo-me daqui

A poesia é um esconderijo, uma ilha

E fora de mim e daqui eu me melhoro

A alma respira lavandas siderais.

É muito tarde mas eu ainda resisto

E leio e escrevo como se para fugir

Sou de uma outra travessia galaxial

Fui deixado aqui em castigo para nidificar

Pago a pena de existir e resisto no poetar.

Meu reino não é deste mundo e espécie

A minha casa verdadeira é do outro lado

Aqui vegeto como um espantalho de palha

Ligando-me no fio terra onírico da poesia

Escrevendo como se um pedido de socorro.

Um dia finalmente será tarde demais

Então eu serei libertado na morte

E voltarei para o meu verdadeiro lar

Noutro espaço, num outro existenciar

Para que minha alma-árvore possa finalmente brilhar.

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Silas Correa Leite, Itararé, Cidade-Poema

E-mail: poesilas@terra.com.br