Hiper Soneto : Nada é o que parece...

Respiro os vapores duma ilusão

Como quem pertence à humanidade.

Mostro os sabores da iluminação

A quem está preso à realidade.

Ouço vozes de silêncios antigos

Como memórias de vidas passadas

Ecoando no fundo dos abrigos

Onde guardo as lembranças mais amadas.

Cheiro odores das flores da ambição

Que nascem em caminhos de humildade.

Vejo as cores com que se escreve razão

No coração de quem sente a verdade.

Sinto o toque de tormentos amigos

Como brisas de terras assombradas

Onde armadilhas evitam perigos

E pistas aparecem desvendadas.

Saboreio venenos de inimigos

Como ofertas de curas adiadas.

Com gritos que me ferem consigo os

Antídotos das doenças caladas.

Conheço os horrores da imaginação

Nos devaneios da sobriedade.

Sei quais os valores do bom cristão

Afastando a religiosidade.

Aceito quando esmolas de mendigos

Me escolhem como moedas faladas.

Não esqueço assim nenhum dos umbigos

Quando aquelas palavras são lembradas.

Embalo as dores da minha prisão

Onde as correntes são de liberdade.

Conquisto amores ao querer paixão

Quando o amor deu lugar à saudade.

Antevendo o passado que irei ter

Revejo o futuro nessas lembranças

Que se formarão enquanto viver.

Lanço os dados do meu próprio destino.

E no seu livro de páginas brancas

Não encontro as letras de algo divino.

a não ser que divino seja eu

e o que em mim pode criar as mudanças

que o destino ainda não escreveu.

Além de todo o mundo me escrever,

também sou de mim próprio o escritor;

o comandante do rumo a escolher.

Há muito no caminho que imagino

os passos a dar p’ra tornar maior

a vaga chama com que o ilumino.

embrulhado em tudo o que é e foi meu

descubro que não sou esse exterior

pois nada foi o que me pareceu.

9 de Março de 2007

Krinkelhas
Enviado por Krinkelhas em 16/04/2008
Código do texto: T948265
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