CÃES QUE LADRAM PRO NADA

hoje são oferecidos sorrisos

como cães que ladram pro nada

e se consolam de lamber suas feridas

hoje em dia é quase impossível

o abraço possível de afeto

porque os gestos das pessoas se petrificaram

como as flores que se cristalizam

na estiagem do inverno

hoje em dia vemos nas ruas as carinhas tristes

e cansadas das pessoas que parecem indiferentes

a tudo que as rodeiam

mas não é isso não!!

Elas não são metidas a prosas

desejam apenas amar e serem amadas

e nada mais querem que um riso

duma criança e de contemplar o sol

que nos aquece a cada dia

de caçar borboletas como quem brinca de pique-pega

ou quem sabe como antigamente procurar

vaga-lumes quando vai escurecendo

essas pessoas, sim, somos nós...

que deixamos de empinar papagaios

de ir ao circo assistir as travessuras dos palhaços

Somos nós! adultos responsáveis

que deixou numa era muito distante

os desenhos do zé colmeia e do marinheiro popaye

que deixou de brincar de bola de gude e boneca barbie

sim, muitas coisas cairam em descrédito

porque há tempo já havíamos caído

sei que não sou criança como antes

sei que cresci se o crescimento real se deu mesmo

sei... e não sei tanto assim de tudo que presumo ter aprendido

sei que não sou aquela criança que brincava de carrinho

de pique-esconde e de amarelinha

Sinto falta daquele tempo do sem tempo

tempo das falta de obrigações para tudo

de regras impostas pela sociedade

sinto falta de haver-me perdido

naquela infância que tanto era feliz

e me encontrava tão à-vontade

antes dos compromissos dos adultos

quando tocava as cornetas que eram feitas

de folhas de bananeiras

e a ordem unida era uma prerrogativa natural das formiguinhas

quando as observava caminhando tão feliz quanto eu era

porém elas ainda permanecem na sua felicidade de serem o que são

naquele tempo a guerra que fazia entre amigos

era de catar sementes de mamonas para jogar uns nos outros

mas depois ficávamos todos de bem

hoje a guerra é outra é fria

cruel e pior do que se imagina

se antes haviam inimigos

era tudo uma doce encenação

daquelas brincadeiras de polícia e ladrão

polícia não era polícia

nem ladrão era ladrão

mas meninos de calça curta

que brincavam no tempo da inocência

e a qualquer momento os papéis se invertiam

porque era uma brincadeira diplomática

Ah que saudade de tudo

de minha infância querida

que o tempo não volta atrás

Hoje em dia sinto e percebo que meu filho

está fadado a uma herança cibernética

que o impulsiona a não ser ele mesmo

mas fruto de uma realidade virtual

hoje ele convive, como eu, com uma realidade

dos cães que nem mesmo haverão de ladrar

e dos risos que caberão na boca

com a presença da felicidade anônima

pelas entrelinhas da indiferença e da discórdia

hoje em dia temos que sobreviver para viver!

E, neste tempo em que vivemos, somente Deus,

poderá derramar sobre nós Seu Divino amor e misericórdia.

denymarques
Enviado por denymarques em 15/05/2008
Reeditado em 19/05/2008
Código do texto: T991101