Vai logo, menino...

Acorda, menino, são seis da manhã. O sol já está alto. Seu avô acordava às quatro e você fica aí de preguiça? Queria ver se vivesse no sítio e tivesse que ordenhar as vacas antes de ir prá roça.


Agora reclama de levantar cedo, tomar um ônibus e ir pra uma fábrica coberta? Queria ver se tivesse que caminhar quatro léguas, carregando a enxada, na estrada de chão.

Levanta, menino, deixa de preguiça, que o mundo não pára pra gente molenga. A vida é mais dura pra quem é capenga. Pega sua marmita e vai trabalhar. E trata de fazer tudo bem feito, pra ninguém reclamar, porque se o serviço tiver defeito, o chefe não vai gostar e você vai perder seu emprego.

Daí, meu filho, não vai ter sossego enquanto não encontrar outro, porque as contas e as prestações não podem esperar. E quem vai pagar? Com as minhas diárias e as roupas que lavo só pago a luz, a água, o sabão e um pouco de comida. Não dá pra pagar prestação. Eu não quero cobrador na porta da minha casa, nem cartinha do spc, serasa. Se acontece uma coisa dessas, eu mato você e morro de vergonha, de desgosto por ser mãe de um frouxo, de um trapo de gente, que perde o seu posto por ser negligente.

Vai logo, menino, não vai se atrasar. Depois vai pra escola, trata de estudar. Me traz um diploma, me vira doutor. Quem sabe algum dia, com a bênção de Nosso Senhor, serei mãe de um dentista, de um médico, um professor.

Não dorme no ponto, não erra o caminho.

Vai logo, menino... vai logo, menino...