Epopéia do pôr-do-sol

Os raios do rei Sol,

do poente longínquo,

cavalgam entre as nuvens

em armaduras douradas.

Como um sinal de morte,

carregam nos elmos

plumas negras de ave de rapina.

Nas mãos,

compridas lanças de Lancelot.

Os malditos.

Atacam sem piedade,

os malvados.

Atravessam os bosques da Babilônia,

pisoteando as flores silvestres.

Invadem florestas

e degolam morcegos,

que voam no sono infinito,

os coitados.

Entram em riachos

e cozinham os peixes,

matando a fome das chamas inexpugnáveis.

Acordam cavernas escuras,

que caem no silêncio eterno.

Esfaqueiam a escuridão sem piedade

ou escrúpulos.

Desnorteiam os pássaros,

com a poeira levantada pelos corcéis brancos,

e abatem os coitadinhos com flechas de fogo.

Lutam cruelmente contra o reinado da rainha Terra.

Como pode a rainha lutar contra o rei Sol

sem possuir ao menos um Dom Quixote?

Pergunta ao mago Tempo, o Merlim.

Mais sábio do que mago,

o Tempo diz que

somente com a ajuda da rainha Lua

pode vencer os cavaleiros do Sol, o rei fogo.

O mago evoca a deusa Noite.

A deusa Noite, atendendo as súplicas,

vem ao auxílio da rainha Terra.

Junto com ela,

os cavaleiros da rainha Lua.

Cavaleiros andantes, montados em mustangs negros.

Trajados em armaduras prateadas

e plumas brancas nos elmos.

Aumentam a velocidade e se chocam com ímpeto

com os cavaleiros dourados.

Guerrilham ferazmente

numa batalha corpo a corpo.

Enterram as espadas uns noutros,

Cabeças rolam

e o sangue corre.

O vermelho se apossa do campo de batalha, o céu.

Raios de luz caem por todos os cantos,

dourados e prateados.

A profecia se cumpre.

Os raios do Sol se põem pouco a pouco.

A noite surge

e, com ela, a Lua formosa,

cercada pelos lancelotes e domquixotes prateados.

Eis que na história do universo

nunca foi tão sangrento

o pôr-do-sol.

Marcelo Melero
Enviado por Marcelo Melero em 29/01/2006
Reeditado em 08/10/2008
Código do texto: T105358