A gaiola no pássaro
Carrego uma gaiola dentro de mim. Dentro da gaiola, o pássaro assustado.
De quando em quando, acordo de madrugada num pulo. É o pássaro chorando. Se sente sozinho. Sua tristeza me percorre, esfria o sangue, amolece as panturrilhas. Mas às vezes o meu susto é pelo seu trinado alegre. Geralmente me acorda nas manhãs de sol em que durmo até mais tarde.
O nome do pássaro é Algodão-doce.
Algodão-doce canta junto com a flauta na música, silencia ao som do violoncelo, dá cambalhotas com o xilofone e assobia os violinos.
Ele também carrega uma gaiola dentro de si, uma prisão, seu luto pessoal.
O seu luto é inverso – há liberdade demais entre minhas costelas.