A perfeição absorve a feição, mas ainda somos tão imperfeitos

A perfeição absorve a feição,

Num dia imperfeito tentamos ficar perfeitos,

E num dia perfeito buscamos a imperfeição,

Mas ainda ornamos o pão com a manteiga

A calça com a blusa, o escarnio com a graça

A saliva com a calçada, a merda com a latrina,

A vontade com a demasia, o estômago com a azia.

Os sapatos sem as meias ainda vestem os pés,

Mas só a pele não reveste os corpos.

E os nervos ligam os ossos

Como o cimento gruda o tijolo.

Separam o joio do trigo,

E a semente do sorgo.

Mas só duas tetas não alimentam o mundo.

Quando a fome chega, comemos até a migalha do mais imundo.

As escadas e nem os elevadores não nos levam ao céu.

Os porcos comem a sujeira e nós nos alimentamos dos porcos,

a vítima sente a frangância do réu.

Não somos quebra cabeças, mas temos ossos.

Sossegue seu esqueleto dentro de quatro paredes e guarde bem seus bens.

Lá fora segue-se a fila dos sobreviventes,

Os nobres passeiam em suas mercedes benz

E ainda temos que responder as perguntas dos incovenientes.

Não se esqueça de apagar a luz quando sair de si mesmo,

A energia da alma é cara

Forte não é o que encara.

E sim o que elabora uma coisa rara.

A perfeição absorve as tentativas

Nunca faça suas apostas de mãos vazias,

Reverencie as cabeças ativas

Jamais deixe sua vontade contrair paralisia.

A perfeição absorve a feição

Mas ainda somos tão imperfeitos.

Rommyr Fonttoura
Enviado por Rommyr Fonttoura em 24/07/2008
Reeditado em 28/01/2009
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