Memórias Não Vividas

Às vezes a vida nos faz ver o lado mais obscuro e solitário em pleno dia, transmutam-se espectros de mim mesma. E vejo, perante o espelho da verdade, toda a mentira. Revelada diante de meus olhos sem pudor algum.

A vida contradiz a realidade que se formou em minha mente tão esperançosa. Carrasca do destino essa que tanto acreditava. Que confiança posso ter que tudo que vivo não é falso, prematuramente padeci e depositei esperanças em sentimentos tão sinceros.

As sombras dos dias freqüentam minhas lembranças, em meio à confusão dos homens e mulheres que vagam no caos. O silêncio me toma. Derramo-me em prantos com a confirmação de que a vida começa todos os dias. Ousando estalar os dedos para despir essa verdade, sem acreditar, vagando no ócio da tarde sombria.

Falsamente me dispus a acreditar que o quer da vida está na obtenção da felicidade e de fazer feliz todos a qualquer momento. O que ninguém sabe esta dentro de mim, só faz parte de mim. E só eu para abolir sentimentos que me aprisionam por tanto tempo na esperança de alforria.

Agora atada, me vejo, por depender de lembranças tão úmidas e encontradas em sonhos. Lamentei e chorei tanto a perda e a despedida. Hoje choro e adoro as cenas venturosas que acordada lembro com afeto evasivo, desdobrado de liras e endoidecida da magia de ser solitária.

A felicidade sai e some. A aurora tanto adormece e logo me restam os pensamentos. Lá reencontros todos na varanda da mente, confraternizando e comemorando abraçados. A brisa fresca sopra. Lá o tempo espera, a vida torna-se a aventura do nascer de novo. O mundo passa a ter razão, sonhos possíveis e impossíveis se tornam reais.

Abro as portas e a neblina dantesca me invade. Ao vejo com dormi profundo. Nessas noites tenho todos presos em mim, mas sem poder tocá-los, como se envoltos em uma cápsula esperando meu acordar para voltar o silencio da minh’alma.

Vejo, sinto e ouso, mas não vivo mais aquele abraço e aquele riso...Encho a caixa de memórias com recortes de solidão não quero nada mais. A vida só me deixou remanências nada felizes do que tive.

Mariélle Freitas
Enviado por Mariélle Freitas em 27/07/2008
Reeditado em 17/07/2011
Código do texto: T1100229
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