Uma voz que se cala

Aquele que mata. E mata-se.

Impõe ao mundo teu grito de revolta.

Última manifestação de ódio, desafio.

Silencia as idéias.

Abreviando a única certeza que há.

Atira-se do alto de toda ignorância.

Estatela-se na sólida burrice.

No medo de viver, fragmenta-se.

Desprende-se os membros.

Alastra sua covardia com sangue.

Sofrida sanidade mascarada paira sobre brutal ato.

Gozando de onde quer que esteja,

Do grito de horror estampado na face do anônimo.

Do fim da vida que sequer viveu.

NOTA: Relendo e reescrevendo esse texto - e seus comentários - percebi que não está clara a idéia que tentei transmitir. Pudera, há um acontecimento por detrás do poema. Em agosto de 2008 um conhecido meu pulou do alto de um prédio e morreu de imediato. Era um rapaz muito inteligente, racionalmente bem intencionado e estruturado, mas sua revolta com o mundo ("Impõe ao mundo teu grito de revolta") o levou a tal ato. Sua mãe ficou arrasada, seu filho era seu guia, sua vontade de viver.

Ao "matar-se" ele também matou "sua mãe" morreu por dentro. É um assassino emocional. O poema defende, de certa forma, o direito que esse rapaz tinha de tirar sua própria vida, mas não o de tirar a vida de sua mãe, por isso as linhas "Atira-se do alto de toda ignorância /

Estatela-se na sólida burrice.", indicando claramente que o "alto de toda ignorância" é o ponto mais alto que chegou, mas inversamente é uma atitude ignorante e, "sólida burrice" é claramente o solo que foi sua arma de suicídio.

"Sofrida sanidade mascarada" refere-se à personalidade comum, socialmente normal que escondia um ser doente que buscava a auto destruição.

"Gozando de onde quer que esteja / Do grito de horror estampado na face do anônimo." demonstra que esse conhecido provavelmente divertira-se com o horror que um desconhecido deve ter demonstrado ao vê-lo morto, estatelado no chão.

Fabricio Oliveira
Enviado por Fabricio Oliveira em 03/09/2008
Reeditado em 17/08/2012
Código do texto: T1159553
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