A Terra, a Lua, o Sol e eu.

 

 A Terra é azul, foi o que disse o astronauta que foi ao espaço a procura de Deus. A Terra é fria e sua luz não aquece. Aqui de baixo, ajoelhada na grama verde, eu olho o espaço e penso: será que alguém me olha, agora? Aos olhos de Deus sou menor do que uma formiga, mas tenho a pretensão de ser Dele uma extensão. Fragmento disperso pelo Universo esperando a reintegração.

 

  Procuro uma escada que suba aos céus. Se não tiver uma escada que alcance tão alto serve um pé de feijão. Queria ver a Terra como vejo a Lua. Muitas vezes fico pensando: será que a porta de saída da Terra fica aberta ou fechada? Será que se eu der uma saidinha vou ter jeito de voltar? Ou vou ter que ficar eternamente por lá? Essa dúvida me consome e adia minha partida. Queria que tivesse uma porta de vai-e-vem, por onde eu pudesse sair e voltar quantas vezes quisesse.

 

 Estou quieta, o corpo. Mas a alma, inquieta. A grama se estende, campo florido, até onde não mais vai minha pouca visão. Meus joelhos doem, marcados pelas linhas da vegetação. O mar está distante, o mar me acalanta. Montanhas me prendem aqui, nesse chão. Canto com a boca fechada meu lamento, minha canção. Ainda ouço aos domingos, no meu coração, as vozes latinas cheirando a fumaça do incenso. Perdão, perdão, grita calado o meu desespero.

 

  O dia acorda. Preguiçoso. Tem algo de manhoso. Já não vejo a Lua. Agora reina o Sol. Vem de repente como se fosse o dono expulsando um usurpador de seus domínios. A Lua me deixa melancólica. Eu fico assim, querendo algo mais do que esse meu cotidiano. Já o Sol expulsa os meus fantasmas e por um tempo me engano que sou feliz.

 

  Eu gosto dos meus fantasmas. Gosto das corujas e dos morcegos. Gosto das sombras entre as árvores. A tristeza da noite me faz andar por novos caminhos. Já o dia me faz profundamente banal. Os claros contornos do meu rosto não são tão belos quanto a minha imagem emoldurada pelo pálido brilho das estrelas. A luz da Lua me faz sonhar e pensar. A luz do Sol me faz agir. E fingir... que a vida é isso que está aqui.

 

 Tenho atravessado obstáculos em minha viagem a caminho do infinito. De dia e de noite, tanto faz. Nuvens ocultam as estrelas. Escondem a Lua e deixam o Sol de mau humor. Eu sou assim: de noite sou triste, mas transcendente. De dia alegre, mas tão comum! Não sei de mim qual das duas prefiro. A que busca uma escada para a Lua, ou a que fica por aqui mesmo, viajando de trem, automóvel ou avião.Ou simplesmente andando a pé pelas calçadas da vida.


(este texto faz parte do meu livro de Poemas Mapa da Vida. Eu o transformei em prosa para que a edição fosse mais fácil de ler, já que é um poema longo)