Uma afirmação, uma condição
Oriunda de família católica, com pai, mãe, primos e avós, ao mundo eu fui chegar
Numa instituição branca, com pessoas a caráter, eu vim do mesmo processo de parto
como qualquer outra pessoa
Nos meus primeiros dias no lugar onde eu chamo de lar, àqueles que foram me visitar, eu dei lembranças, lembranças estas que sequer sabia que tinham, mas eu dei
Daí eu fui comemorada com chá, antes mergulhada numa pia de mármore (Patética cultura) que ficava numa casa grande e que dizem que é de todos, mas eu só vejo só um tipo de gente entrar.
Formaturas escolares, festas de aniversários e de debutantes eu tive de encarar
Até que, finalmente, cresci, segundo eles: na idade de casar.
Mas retruquei: - Não caso! Deixem-me respirar!
Não sou burguesa, eu fui até agora, mas não me deram escolha, tive de ser. Mas não caso! Dane-se o que vão dizer!
Não sou católica, não gosto de branco nem de homens pingüins em altar.
Já se foi, o príncipe do cavalo encantado, de tanto me esperar.
Não caso! Não caso! Não ouse me arrastar!
Não preciso de grinalda, nem de flor de laranjeira para dizer o quanto eu valho, nem de um moço pra me apoiar.
Eu não sou burguesa. Não preciso de flores ou um anel de brilhantes, eu sou muito mais do que o mercado pode me oferecer
E não me venha com aliança, não sou propriedade de quem quer que seja. Não leio romance de banca de revista. E, mesmo que eu lesse, eu sei como funciona essa grande máquina de domesticar pessoas, não me deixaria levar
Maldita burguesia, maldita idade, maldita, sua maldita!
Chamaste-me de burguesa, maldita, e tu, que para um deus controverso insiste em rezar? E o hexagrama tu juras que nele há as sete emanações divinas.
Diga-me? Por que insiste a implicar?
Eu não sou burguesa.
(...) Mas, se eu fosse casaria contigo, maldita.
Rezaria pro teu deus e carregaria em meu peito essa tua cruz.
Deixaria me domesticar, aceitaria tuas flores e tua coleira.
Casa-te comigo, que eu viro burguesa.
Burguesa como tu, maldita.