Sorriso-Luz

A luz transborda pela janela ferindo minha sensível consciência de inutilidade. Raios de esperanças se enredam em meus nervos tensos tentando alterar meu estado reflexivo. Sento. Olho meus pés banhados dessa luminosidade inesperada e pensamentos procuram insistir em me fazer sorrir. Sorrir! Grande aventura quando a dor se insere nas paredes da alma...

Olho novamente para aquela luz em meus pés. Um afago quente do sol. Um brilho indelével que se insinua nas retinas. Um morno consolo para as últimas lágrimas que mal secaram. Pode parecer um fato corriqueiro, mas sinto que devo mergulhar nessa íntima percepção do momento.

Fico ali em silêncio. Por minutos a fio meu olhar permanece invadido por aquela sensação de alegria. Um sentimento quase infantil, mas não consigo me desvencilhar daquela paz, da suavidade do toque da luz em meus pés.

Cruzo as pernas e me mantenho naquela espécie de êxtase. Reinvento passos na areia. Sinto o frescor da brisa marinha em meu rosto... o beijo das espumas lavando a tristeza. Tenho a sensação clara de poder ler naquelas pegadas a história de vida que escrevi por estes anos todos.

Um sorriso vem em meu socorro. Inalo o mormaço, a maresia... Um soluço extingue-se a meio caminho. Prendo o sorriso em meus lábios. Deixo-o ali penetrando em minha impaciente vontade de ser feliz. Invadindo minha alma. Permito que essas oscilações se afastem junto com as ondas e as marés.

Retorno do vôo. De novo eu estou sentada em meu canto. Sem lágrimas. Resta o sorriso e sua incandescente sensação de felicidade.