O casarão

O sol escorrendo pelo telhado

trouxe-me de volta amargas lembranças

que insistiam em torturar minh’alma.

O vento pragmático soprando prepotente,

entrava pelas frestas sem pedir licença,

naquela doce manhã que se fazia calma.

Ao longe, se ouvia a movimentação no cais

dos estivadores, e marujos embriagados,

prontos para partirem para o velho mundo.

Com a roupa amarrotada e barba por fazer

caminhei trôpego até o velho espelho,

onde avistei apenas um trógio moribundo.

Juntei as rotas malas e parti dilacerado.

Prostrei-me estático diante do casarão

e percebi que ninguém chorava minha partida.

Um sino badalava solitário chamando os fiéis,

Lembrei-me então que era manhã de domingo.

Não havia mais motivos para adiar a despedida,

Ali agora tudo estava completamente vazio.

Na noite anterior todos haviam partido,

embalados pelo choro desesperado de alguém.

Com os olhos turvos e levemente marejados,

voltei-me e olhei pela última vez o casarão

onde agora, solitário, não abrigava mais ninguém.