OLHOS

Teus olhos são móveis cobertos pra não empoeirar.

Eu olho teus olhos com meus olhos e o que enxergo é fantasia minha.

Já há muito tempo que varri certas coisas pra baixo do tapete e agora, ao sacudí-lo, a poeira tem me feito tossir.

Conheci vários corpos dismorfes e a integridade do meu têm sido ameaçada pela tua língua.

Se eu enrolá-la na minha, calaremos ambos.

O que faço é contemplar, marionete das minhas sensações; e espero.

Um dia te conto que chorei de saudade do que nunca tive.

Fiz do resto de meus dias, apêndices dos dias de te ver.

E tantas vezes te olhei, com meus olhos para os teus,

E não te vi.

Maíra Novoa
Enviado por Maíra Novoa em 19/03/2006
Reeditado em 20/03/2006
Código do texto: T125554