Águas cristalinas, cristalinas águas (T48)

Águas cristalinas, cristalinas águas

que despencam do berço que te ampara

para juntar-se ao lençol d' água.

Águas virgens que o mundo ainda não conheceu,

nem ti, no teu acanhamento, conheceu o mundo.

Afasta-te da humanidade, escolha outro percurso,

mas não é possível, o seu percurso já é traçado,

o homem que te atrapalha, que te barra,

que faz a sua vida definhar, arranca

de tuas claras águas o último suspiro,

um último e agonizante suspiro,

te transforma em águas barrentas

da qual emerge a podridão que te envolve.

Águas paradas, sem vida , volte para o leito,

lá nasceste com vida, límpida como o orvalho da manhã,

não deixe que levem a contaminação às tuas irmãs

para que não pereçam no berço da nascente.

Alexandre Brussolo (20/03/1992)