QUEM SOU EU?

Quem sou eu.?

Autor: Onildo Barbosa.

Às vezes estou na rua,

No campo em qualquer lugar

E paro pra perguntar,

A mim mesmo: quem sou eu?

De onde vim? Pra onde vou?

Porque é que aqui estou,

Qual é o meu paradeiro?

Sufocado neste esmo,

Eu respondo pra mim mesmo:

Ah! Eu sou um BRASILEIRO.

Eu sou a força do vento

Que açoita a onda raivosa

Sou a ponta do espinho,

Que se esconde a traz da rosa,

Sou a pedra do batente,

Sou a água da enchente,

Que passa levando tudo,

Sou o Brasil dos brasis,

Sou um cabôco feliz,

Sem a ciência do estudo.

É isso mermo!! Eu sou pó

Pó de poeira, mardito,

Sou a ância do socó,

Na busca do peixe aflito.

Sou o choro da peitica,

O pingo-pingo da bica,

Enchendo pote e panela.

Sou o caboco de fé,

Que anda léguas a pé,

No encontro da donzela.

Eu sou a dor da topada,

Nas pedras que a vida traz

Essa topada bem dada,

Que vira a unha pra traz.

Sou a saudade que dói

Derramando água nos zói

Do matuto sonhador,

Sou o grito das gaivotas,

O verso que arranca notas,

Da goela do cantador.

Sou mandacaru cinzento,

Espremido na pedreira,

Sou o segredo convento

Por trás do manto da freira,

Eu sou o medo guardado,

Entre os zói arregalado

Do mulequim cabeçudo,

Que cresce puxando enxada,

Finge não saber de nada,

Mas é quem sabe de tudo.

Sou o Pescador Que canta,

Tocando o remo na proa,

Numa sexta feira santa,

No vai e vem da canoa,

O suor que banha o rosto,

Do Sertanejo disposto,

Cultivando o solo duro,

Não se reclama nem chora;

Planta uma semente agora

Para Colher no futuro.

Talvez eu seja um pingente

No pescoço desnutrido,

De um peregrino sem sorte,

Num mundo desconhecido,

Sou a casca da madeira

Barulho de ribanceira,

Na chuva torrencial,

Redemoinho nervoso,

Lençol de algodão cheiroso

Estendido no varal.

Talvez eu seja um herbívoro,

Comendo a folha que chia,

Ou um Gigante carnívoro,

Devorando a própria cria,

Pois quando chegar meu fim

Ninguém vai lembrar de mim,

Nem o que aconteceu,

De tudo eu serei um nada,

Somente um conto de fada

Que a mão do tempo escreveu.

Fim.

Onildo Barbosa/ 15/11/2006