UMA MULHER FEIA, BÊBADA E PIRANHA

Neste momento o que mais queria – andar devagar em direção ao mar, olhar profundamente as ondas imitando os mesmos movimentos da vida. Depois sentar-me lentamente na areia da praia, com as pernas cruzadas e olhos navegados de águas doces e salgadas. Virar a cabeça para o lado direito e enxergar um casal feliz passeando de mãos dadas. Ela de chapéu e vestido amarelo, ligeiramente grávida. Ele com short azul e camisa regata branca. Descalços. Eu com o coração sangrando olharia para baixo e choraria ao pensar que poderíamos ser nós dois aquele casal.

Mas, aqui, agora, sentada em uma cadeira de concreto, eu para e penso: Por qual amor vou chorar, se nunca tive um? Cadê você que eu amo e não existe, não aparece para realizar os meus devaneios clichês? E tem mais: Pra qual mar vou correr e chorar, se estou em Brasília? E essa terra é tão infértil quanto o meu coração. Então, por que vou chorar? Me dê motivos urgentes para chorar.

Sabe, a impressão que tenho é que a minha vida nunca daria um romance, nem um folhetim, nem um poema, nem uma estrofe; nada.

A minha história é acordar de manha, escovar os dentes, ler os classificados e empurrar o dia com a barriga. Sem esquecer de nas noites de quintas, sextas, sábados e domingos beber umas com uns desesperados de plantão. E continuar, continuar, sem ninguém pra quem eu possa ligar e dizer: Estava com saudade de você.

A vida assim é muito dura, mas acho que perdi o jeito. Não consigo mais acreditar que vou viver um grande amor. Fiquei adulta, sei lá. Meu negócio é só sexo, transo com um, transo com outra e vou indo. Você entende, né? Isso tudo é só carência eu preciso ser tocada, tocar alguém. Com sexo é mais fácil, é aquilo e acabou. Os caras quase nunca me ligam no outro dia; eles me acham uma piranha, vadia, essas coisas. E eu nem me importo com isso, porque acho que sou mesmo.

Quanto o amor, não sei. Que dizer sei bem, não é pra mim. Toda vez que tento ir, volto atrás. Não sei se é coisa da minha cabeça, mas as minhas estórias se repetem o tempo todo. Agora eu nem tento mais. Já sei o final: uma decepção – um adeus e uma solidão. Então, pra que tentar? Uma mulher feia, bêbada, burra e piranha nunca vai ser mocinha de história nenhuma. Never.

Sintia Lira
Enviado por Sintia Lira em 18/12/2008
Reeditado em 20/03/2009
Código do texto: T1342100
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