Tom de viola, som de carrilhão

Quando viajo de carro, gosto de parar naquelas vendinhas simples, com piso de cimento vermelho, balcão rústico e sebento, sujo de toicinho, e mortadela.
Se vejo um violeiro sentado na beira do avarandado, melhor. Peço uma cerveja e, se não tem, uma Coca.
Começamos um papo e logo ele dedilha uma toada. Para alguns as palavras nem saem direitinho da boca, devido uns dois ou três dentes que faltam, mas como os acordes saem dançando de lá, numa boniteza de dar gosto!
E aí, dá uma vontade de escrever, os dedos ficam não sei se dançando ou brigando uns com os outros...corro para o PC (antes era caderno) , lembro do som do relógio antigo lá de casa, que para mim, parece melodia e começo a escrever, e vem uns versos assim:


Carrilhão do meu Lar

Hora meiga da tarde...
faltando meia hora para as seis
uma melancolia no ar,
uma sensação de espera,
o que será?
o toque costumeiro
por todos conhecido
o sino da igreja avisa:
hora da Ave Maria, a hora de orar,
Ora com O, Hora com H,
ambas lembram infância,
cidade do interior,
bancos do jardim,
lua no céu, inocência,
Coração na mão
o carrilhão repete seis blãos.