Sujeito vagal

Chegou assim de repente,

Chegou de mal jeito

E meio sem jeito pediu pra beber.

A voz embargada, os olhos molhados,

O rosto marcado de tanto sofrer.

E mesmo jogando a sua honra na lama

Sem papas na língua e sem muita delonga

Encostou-se ao balcão e contou o seu drama

Hoje eu quero afogar minhas mágoas,

Para as dores da vida poder esquecer

E se acaso por ai me vires jogado

Não me julgues ser um pobre coitado,

Pois tudo na vida é por bem merecer

E amanhã quero ler no jornal,

Que fulano de tal, um sujeito vagal,

Cansado da vida, e sofrendo de amor,

Desistiu desse mundo e num martírio profundo,

Afogou-se na cachaça para matar a sua dor.

Garçom me sirva algo bem forte, talvez não suporte

E acabo de vez com o meu sofrimento.

E o boteco sorriu um sorriso amarelo,

Sem dar importância a tamanho lamento.

Virou a cachaça com gosto e com graça,

Fez uma baita careta e num só gole bebeu.

Carregando, então, a dor que era só sua,

Cambaleou desprumado pelo meio da rua

E cantarolando desritimado um samba de Noel,

Trançou desconexo as pernas que Deus lhe deu

Num gingado sonso, descompassado e sem graça.

E Levando consigo a sua própria desgraça

No peito, na marra, na força e na raça

Na primeira à esquerda... desapareceu.