Diário noturno
Passei a tarde pisando na chuva, sentindo o cheiro da terra molhada que provocou em mim uma alegria imensa. Minhas raízes encharcadas de alegria. Fui vasculhar as gavetas procurando alguma coisa que não sei bem o que era.
Aliás, eu nunca sei bem o que busco...
Encontrei perfumes em frascos pequenos, notas de dinheiro que não vale mais, muitas notas e fiquei pensando em quanto valeriam hoje e o quanto valeram ontem, retratos 3x4 de documentos vencidos, cartas de anos atrás e numa delas estava escrito: “para meu vuelito regalaré um regalo viejo porque ele é um viejito”... deu um nó na garganta, um nó no fio da esperança, mas por causa da alegria não chorei, eu sorri...
Agora é o quarto na penumbra, a porta trancada com uma volta na chave. Porque não duas ou nenhuma? Lá fora assobios, muitos assobios. Algum bicho noturno, porque agora é noite, sempre a noite dando vida aos seus mistérios.
A terra ainda deve estar úmida, as folhas do flamboyant e as pétalas da primavera encharcadas dela. Um vento tímido arrasta os galhos no telhado provocando ruídos, muitos ruídos...
À minha frente a estante com livros antigos e esquecidos, o porta-lápis de pedra-sabão com lápis coloridos, as caixas, muitas caixas guardando coisas, muitas coisas.
A casa é grande, meu quarto é grande e o coração apertado, parece querer fugir pela boca, pelas pontas dos dedos, pela ponta do lápis... mas tranquei o quarto com uma volta na chave, tranquei a porta, deixei lá fora a noite e os seus efeitos.
Fecho o caderno e busco um livro de poesia. Abro numa página qualquer e encontro o verso que me diz: “... o que a memória ama fica eterno...”.
***
(Citando o verso de Adélia Prado: “... o que a memória ama fica eterno...”)
Passei a tarde pisando na chuva, sentindo o cheiro da terra molhada que provocou em mim uma alegria imensa. Minhas raízes encharcadas de alegria. Fui vasculhar as gavetas procurando alguma coisa que não sei bem o que era.
Aliás, eu nunca sei bem o que busco...
Encontrei perfumes em frascos pequenos, notas de dinheiro que não vale mais, muitas notas e fiquei pensando em quanto valeriam hoje e o quanto valeram ontem, retratos 3x4 de documentos vencidos, cartas de anos atrás e numa delas estava escrito: “para meu vuelito regalaré um regalo viejo porque ele é um viejito”... deu um nó na garganta, um nó no fio da esperança, mas por causa da alegria não chorei, eu sorri...
Agora é o quarto na penumbra, a porta trancada com uma volta na chave. Porque não duas ou nenhuma? Lá fora assobios, muitos assobios. Algum bicho noturno, porque agora é noite, sempre a noite dando vida aos seus mistérios.
A terra ainda deve estar úmida, as folhas do flamboyant e as pétalas da primavera encharcadas dela. Um vento tímido arrasta os galhos no telhado provocando ruídos, muitos ruídos...
À minha frente a estante com livros antigos e esquecidos, o porta-lápis de pedra-sabão com lápis coloridos, as caixas, muitas caixas guardando coisas, muitas coisas.
A casa é grande, meu quarto é grande e o coração apertado, parece querer fugir pela boca, pelas pontas dos dedos, pela ponta do lápis... mas tranquei o quarto com uma volta na chave, tranquei a porta, deixei lá fora a noite e os seus efeitos.
Fecho o caderno e busco um livro de poesia. Abro numa página qualquer e encontro o verso que me diz: “... o que a memória ama fica eterno...”.
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(Citando o verso de Adélia Prado: “... o que a memória ama fica eterno...”)