RUÍNA - MISTÉRIO
 
Sepulturas no piso,
Bancos com nomes gravados
 eco dos hinos no recinto,
turíbulos ainda perfumados
até o coro parece povoado
 o órgão solta notas no ar
amores, ódios, ciúmes, casamentos,
momentos passados e vividos,
batizados, comunhão  
nas igrejas do mundo,
energias várias,
votos, promessas e milagres,
crenças e lendas.
Imagens e espírito.

 Existem locais que falam. É claro que precisamos, como em todo relacionamento, sentir por esses locais certa empatia.
E só isso não é suficiente, é preciso saber sentir, estar com a mente aberta, o hemisfério direito em atividade, o coração disponível, a pituitária alerta. Locais que falam aprenderam desde pequenos idiomas diversos, sentimentos variados, emoções descontroladas. Se locais tivessem pele, diria que os locais que falam têm a sensibilidade à flor... na superfície.
Fazer a experiência de conversar com esses lugares é vivenciar mudanças físicas e emocionais que não podem ser contadas e, às vezes, até, nem entendidas.
A igreja é um desses lugares, principalmente se ela estiver em ruínas, mas não necessariamente assim. Vale a pena ir à igreja com um objetivo completamente diferente daquele para o qual ela existe. Ir a uma igreja para respirar odores de bouquets, ouvir risos , acalentar bebês, confortar velhos, admirar tecidos, imaginar vida e morte de mártires, perdoar ódios e distribuir perdão.
Visitar uma ruína nos preenche com experiências sensitivas únicas. De repente podemos até sentir que alguém nos segura a mão, ou que um pedaço de uma parede começa a gemer para em seguida desmoronar...