Ciranda ao entardecer


É cor de prata o quintal

A água ferve na chaleira, e
do pó de café torrado em casa
exala um cheiro quase desconhecido...
um cheiro que não se sente mais,
um aroma quase esquecido.
É hora do anoitecer

 
 
A noite está chamando, as estrelas clamando, o azul-noite da abóbada celeste e a prata da lua estão a cada dia, reiterando um antigo convite que não é escutado porque as cidades, os edifícios, as casas noturnas, os esconderijos, os bandos de rua, as armas de fogo, os nervos afetados pelo vício, os corações vingativos, as mentes alienadas, as balas perdidas, produzem um ruído ensurdecedor que abafa o clamor da Natureza. Mas ainda há cantigas de rodas, fogueiras e milho assado, violões e cantorias.
Ainda se vê a lua à beira do mar e se sobe montanhas. Em algum lugar há cadeiras nos passeios, namorados na varanda, bolos cheirando no forno e conversas na sala de estar. Em algum canto do mundo há uma família completa tomando sopa quente à mesa, e crianças brincando de roda, cantando:
 
Ciranda, cirandinha,
Cirandar é natural
Um dia no meu terreiro
Outro dia em seu quintal.