Espelho extravagante

A imagem é aterrorizante, e o espelho, impiedoso

Árvores queimadas por lábios em brasa

Gritos e gritos tombando em escadas

Vento em espirais, cujo ar é danoso

E veneno, veneno no espírito, nos sais

Nesses mares cujas bocarras explodem

Em tons tremeluzentes de verde, musgo, azul

Rosa dos ventos que entorta; mescla leste e sul

Norte e oeste; lá fora, só os animais são calmarias.

O objeto bizarro ainda goteja, goteja vermelho

Porém seu barulho cessa,

E só resta

Os tiques milenares do relógio do tempo.

Tudo cessa, promessa, tudo um dia cessará.

Sabia disso ao mergulhar no espelho liso

Tola e eterna aprendiz

Desnudando-me de peso, vergonha, segredos

Fecho os olhos para esse frio horrendo e fixo

E é meu coração que explode entre meus dedos.

Scarllet Souza
Enviado por Scarllet Souza em 09/05/2006
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