Espelho extravagante
A imagem é aterrorizante, e o espelho, impiedoso
Árvores queimadas por lábios em brasa
Gritos e gritos tombando em escadas
Vento em espirais, cujo ar é danoso
E veneno, veneno no espírito, nos sais
Nesses mares cujas bocarras explodem
Em tons tremeluzentes de verde, musgo, azul
Rosa dos ventos que entorta; mescla leste e sul
Norte e oeste; lá fora, só os animais são calmarias.
O objeto bizarro ainda goteja, goteja vermelho
Porém seu barulho cessa,
E só resta
Os tiques milenares do relógio do tempo.
Tudo cessa, promessa, tudo um dia cessará.
Sabia disso ao mergulhar no espelho liso
Tola e eterna aprendiz
Desnudando-me de peso, vergonha, segredos
Fecho os olhos para esse frio horrendo e fixo
E é meu coração que explode entre meus dedos.