Tu, que não sabes quem sou
Pego na tua mão com a devida delicadeza
Que outrora a regente realeza
Dedicava às suas flores por prazer
Mas és rosa estranha, esquiva, rosa selvagem
Que minha palma sente como miragem...
E tu nem sabes porque.
Estava a olhar para um branco quadro
Essas salas de aula que por vezes talham
A imaginação como faria uma tesoura ao retrato
Incitando minhas dúvidas, que se espalham.
Tu sorris do meu desacato.
Pensei em ti com ternura insuportável
Quando, em hora inoportuna, de júbilo ou tristeza
Meu pensamento vôo alçou
Para onde estavas, em estado de natureza
Tão etéreo, vivo, intratável
E impossível...
Tu, que nem sabes quem sou.
Pude, estirada em indefinida cama
Jogar xadrez com fantasmas intelectuais
Que, a critério, curtiam a fama
Ou afundavam na lama
E repousavam as mãos espectrais
Com a mesma candura, acredite, que deposito
Nessa tua face de pedra dourada e sombria
Um beijo assustado em formato de soluço.
Tu desdenhas a marca em meu pulso.
Tu liberas, contrariado, sentimento avulso
Ao esperado.
Por que não retribuir fogo com fogo,
Que esperas desse estado de líquido?
Além de, com punho sofrido,
Bancar um jogo despropositado?
Tu e teu ideal assassinado.