Tu, que não sabes quem sou

Pego na tua mão com a devida delicadeza

Que outrora a regente realeza

Dedicava às suas flores por prazer

Mas és rosa estranha, esquiva, rosa selvagem

Que minha palma sente como miragem...

E tu nem sabes porque.

Estava a olhar para um branco quadro

Essas salas de aula que por vezes talham

A imaginação como faria uma tesoura ao retrato

Incitando minhas dúvidas, que se espalham.

Tu sorris do meu desacato.

Pensei em ti com ternura insuportável

Quando, em hora inoportuna, de júbilo ou tristeza

Meu pensamento vôo alçou

Para onde estavas, em estado de natureza

Tão etéreo, vivo, intratável

E impossível...

Tu, que nem sabes quem sou.

Pude, estirada em indefinida cama

Jogar xadrez com fantasmas intelectuais

Que, a critério, curtiam a fama

Ou afundavam na lama

E repousavam as mãos espectrais

Com a mesma candura, acredite, que deposito

Nessa tua face de pedra dourada e sombria

Um beijo assustado em formato de soluço.

Tu desdenhas a marca em meu pulso.

Tu liberas, contrariado, sentimento avulso

Ao esperado.

Por que não retribuir fogo com fogo,

Que esperas desse estado de líquido?

Além de, com punho sofrido,

Bancar um jogo despropositado?

Tu e teu ideal assassinado.

Scarllet Souza
Enviado por Scarllet Souza em 17/05/2006
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