A CIGANA E O DESTINO

A CIGANA E O DESTINO

Elizabeth Fonseca

Numa cidade pequena, pacata,

Que pouca coisa se podia fazer,

Chegou a caravana dos ciganos.

Pra fazer simples e curta morada,

Ao que todos saiam para ver.

-Pediram licença ao prefeito da cidadezinha

Que nem pensou ao dizer sim,

Olhando disfarçado a ciganinha.

Armaram logo a barraca,

Bem firme, bonita, bem fresquinha,

Próxima ao bosque do pinheiral.

-Logo ficou preocupada a vizinha,

A viúva, dona Zefa do Amaral,

Que, receosa, recolhia tudo do seu quintal.

Cigano tem fama de astuto.

Não se pode nem mesmo pestanejar.

Assim, pensava o povo assustado,

Vem chegando de mansinho,

Pra ler a sorte, pedir e agradar.

-Vizinha, me arruma um pouco de feijão ?

-Não posso, tenho pouco pra lhe dar.

-Vem cá, vizinha, lendo a sorte te posso pagar.

A vizinha, curiosa, não conteve a especulação.

-Então leia, que lhe dou o feijão.

A cigana, observando as linhas da mão, disse :

-A vizinha tem vida longa, vai até aos

oitenta anos e sofrer do coração.

Vai ter netos viajantes, a filha será

andante, em cada palmo de chão.

Dona Zefa, em sobressalto, logo disse :

-Não ! ... minha filha... aquela flor !

Meu Deus ! ... que horror !

Nisso não acredito, não !

Um bom dia, dona cigana,

Me devolve, por favor, o feijão.

A cigana, mal humorada,

Foi embora resmungando.

-Ela verá se não é verdade,

O azar que estou lhe contando.

Os ciganinhos, pele bronzeada, galanteadores,

Tinham beleza, mistério, a vida dos errantes,

Que despertavam paixão, amores,

Às jovens e lindas estudantes.

As ciganinhas não podiam namorar.

Desde crianças já eram comprometidas.

Tendo, como desdita, com quem se casar,

Os ciganos, de porta em porta a bater,

Ora pedindo arroz, açúcar, café, água, feijão...

Vendendo panelas e tachos de cobre,

Na verdade, não eram tão pobres.

As barracas bem arrumadas; tudo do melhor:

Objetos, tapetes, estofados e almofadas.

À noite iluminada, pela luz do lampião,

Preparavam uma festa bem animada.

-Rosinha fora convidada por Sandro;

Um zíngaro que tocava sanfona e violão.

Dona Zefa nada sabia do combinado encontro,

E, preocupada, costurando, não percebia

o que Rosinha estava em seu quarto aprontando.

-Brincos de argola, correntes, pulseiras,

blusa com decote à moda cigana.

Saia ... a mais rodada, a mais faceira

Para conquistar um coração gitano.

-Pé ante pé ... encostou a porta.

E lá fora, Sandro estava esperando.

Felizes, dançavam e conversavam.

A matriarca Madalena, foi quem gostou

De ver sua profecia se concretizando.

-Agora sim ! ... vou permitir-lhes casar.

A Rosinha é mesmo uma flor !

Dona Zefa nem desconfiava dessa paixão.

A caravana foi-se embora, sem saber para onde..

Rosinha deixou uma carta à pobre mãe,

Que chorava desesperada e dor no coração.

"Mamãe, meu destino é ser andante,

Conhecerei o mundo, cada palmo de chão.

O amor é lindo ! sou feliz, também te amo,

Por favor, não chores não".

Os anos se passaram e nada de Rosinha.

Às vezes, uma carta prometendo-lhe visitar.

Dona Zefa ... cabelos brancos, bem velhinha,

Certo dia viu uma caravana de ciganos chegar.

Era Rosinha ... lhe trazia os netos para conhecer.

A emoção foi tão forte, que não pode conter.

E, aos oitenta anos, ela veio mesmo a faltar.

O futuro estava escrito

Na palma da sua mão.

Quis fugir por todos os meios

Mas, do destino, não se foge não.

Elizabeth Fonseca
Enviado por Elizabeth Fonseca em 21/05/2006
Código do texto: T160238