VERSOS CARTESIANOS

VERSOS CARTESIANOS

Seus versos eram medidos. Sem métrica, medidos com trena e lupa. Tinha uma prosa calculada, mas queria ser poeta. Mais: já nos primeiros acertos com as linhas, se intitulava bardo. Não, bardo não, que é muito “sensivel”. A verdade vinha estampada nas junções das sílabas quadradas. Não era o dono da verdade, mas se considerava filho dos donos. Tudo podia ser comprovado em sua poesia. A dos outros, analisava com método de investigador. Tinha que ter segundas, terceiras e tantas intenções. Cada poema(?) seu parecia ajustado no exato espaço avaliado. Pareciam versos aquartelados.

Toda estrofe era um modo imperativo. Tocava a corneta e despertava a todos.

- Poetas, hora de levantar e fazer poesia, senão vai ter ostracismo! Os versos machucados iam andando na folha, em fila, em ordem, até onde tinha estabelecido pela régua. Dali desciam para a linha seguinte, numa seqüência lógica. Se desse para rimar, lindo! Se não, uma imposição:

- creiam todos quantos lerem que esses toscos ensinamentos são um poema do fundo de minha alma cartesiana.

Com tanta generosidade disponível...

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 02/06/2009
Reeditado em 02/06/2009
Código do texto: T1627613