Levados pelo vento...

No final da minha existência e infeliz por não ter sido aquela pessoa que pretendia na minha doce infância, decidi ficar recluso em um vilarejo distante dos centros urbanos e próximo ao fim do mundo, no claro desejo de relembrar os momentos passados e refletir sobre as minhas decisões que mudaram não só a minha vida e, exatamente por isso, são objeto de um obtuso padecimento.

Assim, quem sabe conseguiria clareza nas idéias e poderia então afirmar com convicção quais foram os motivos que macularam o meu ser e ocasionaram tanto sofrimento e, dependendo da conclusão, poderia enfim agir como Ernest Hemingway (*), um dos maiores escritores da literatura moderna.

Decidido e compenetrado, li livros que abordavam temas que variavam da religiosidade à guerra, relembrei fatos marcantes, sorri e chorei muito e, após semanas na ânsia de conseguir encontrar a tão almejada resposta, ironicamente descobri o que procurava ao acompanhar da janela do meu quarto uma simples folha que seguia em ritmo vagaroso, levada pela suave brisa de um lindo entardecer.

Não depende de nós. Somos levados pelo vento, influenciados pelo tempo, pelas pessoas, pelos acontecimentos, por fatos que ocorreram antes mesmo da nossa existência.

Injusto sermos os únicos responsáveis pelo destino de nossa vida, sendo certo que o sucesso ou o fracasso depende necessariamente de fatores externos que independem de nossas forças.

Obviamente, é importante ressaltar que a conclusão supracitada é interpretativa e pessoal e, portanto, pode não ser a mais correta, mesmo porque, como diria um grande escritor: “a sabedoria dos velhos é um grande engano. Eles não se tornam mais sábios, mas sim mais prudentes”. Enfim, da maneira mais prudente, plagiei Hemingway.

Que venham os derradeiros dias.......

(*) Ernest Miller Hemingway , foi um dos maiores escritores norte-americanos, ganhador do prêmio Nobel de Literatura (1954), suicidou-se em sua casa de Ketchum, em Idaho (EUA), em 1961.