Fenomenologia Existencialista

A essência do Mistério está não só em nada compreender,

Mas em não saber porquê não se compreende.

Horrorizo-me de ver que há existência e existências,

E meditando me perco em profundos pensamentos,

Até ao ponto cansativo de nada entender.

Existir estrelas, planetas, galáxias, firmamentos, organismos vivos e inanimados,

Todas essas coisas me sufocam com um terror translúcido.

No mais simples dos fatos é que existe o maior horror: que há Existência.

Sinto tão intensamente isso...

Eis o horror inefável que me consome.

Por que motivos existem pedras e areia sob meus passos céticos,

E ar para se respirar,

E que eu necessite de oxigênio?

Tudo é bastante claro para ti?

Te enganas precipitadamente sobre teus conceitos pré-conceituosos.

Por que há um universo?

Por que há o que há?

Por que há o mundo,

E por que o mundo é vivido e constituído dessa forma?

Por que é que o que é

É Isto que é?

O que é Existir (não nós e o mundo), mas existir em si?

O horror gélido de me sentir vivo,

De me sentir um sonho parido pela ilusão.

Não é propriamente a dor de já não poder crer,

Nem a de não saber;

É muito mais o pavor avassalador de ter visto o mistério face-a-face,

De tê-lo visto e compreendido em toda a sua infinidade angustiante de ser indecifrável.

O cheiro da Existência exalando incompreensões insondáveis em todas as coisas,

Meus pés caminham pelo abismo espinhoso da Existência,

E minha atormentada alma por nada entender

Evade-se sem minha permissão de meu corpo,

E me deixa mais vazio e sozinho diante do mistério apavorante

das coisas e dos seres realmente existirem;

e minhas mãos ficam perplexas,

e meus olhos duvidam de minha própria Existência,

e todo meu ser é um penhasco impalpável e transbordante de perguntas e questionamentos.

Para mim, ser é espantar-me e admirar-me pelo fato irrevogável de existir;

E tudo isso atormenta minha consciência conscientizada.

Ao olhar para o mundo,

Tudo me parece tão irreal e inacreditável,

E minha razão intelectual fica totalmente entorpecida e confusa.

Pessoas indo trabalhar, fazendo sexo,

Lendo livros, dirigindo automóveis, conversando sobre qualquer assunto,

Tudo isso me parece tão estranho,

Tão difícil de acreditar,

Mesmo estando vendo,

Ali... Todos esses fatos bem a minha frente... Ali...

Minha consciência não consegue digerir a Existência,

E suas futilidades tidas como essenciais.

Ser: vocábulo em si opaco,

Parindo ainda mais Indefinições.

O que é que de fato eu conheço,

Para classificar “isso ou aquilo” de desconhecido ou desconhecível?

O que eu sou,

Ou o que eu supunha que eu seja?

E não me saber sentir que sou o que não sou,

Por não me achar real perante esse nada imperscrutável a que chamamos Vida e Universo...

De tanto olhar e analisar a tudo,

Eu vejo o rosto desdenhoso da Loucura em tudo,

Em absolutamente tudo.

A Loucura de haver consciência e pensamentos,

a Loucura de haver a própria loucura.

Minha consciência é um terrível tribunal;

Ora meus outros eus me acusam, me difamam, me caluniam, me ameaçam;

Ora meus outros eus advogam em prol de minhas causas, de meu caráter, de minha índole...

Minha consciência é um terremoto destruindo as ilusões palpáveis das coisas,

dos prédios, das casas, das ruas, da vida das pessoas e dos animais,

Tudo isso soterrado dentro de mim como se todas essas coisas existissem mesmo.

O Mistério não é a inexistência de Deus.

O Mistério é que Ele deveria ser e existir.

O meu pensamento penetra em todos os abismos inacessíveis da Vida...

Quando meu pensamento acorda para o mesmo picadeiro absurdo

de milênios atrás do Existir,

Sinto que minha alma quer permanecer dormindo dentro de mim,

Contudo não é apenas minha alma,

Na verdade é tudo em mim.

Ver cada pensamento se afogando em milhões de incompreensões,

Que tortura tu és ó Vida!

Ver e pensar? Delírios insanos são todas as realidades tangíveis e intangíveis.

Sinto que as palavras as quais escrevo

São muito mais reais do que o próprio autor que as escreve.

Sinto deveras isso,

E uma agonia atroz flagela meu interior sem piedade,

Sem remorsos.

Quando testemunho duas almas carnais se beijando,

Enlaçadas pela loucura de querer se amar,

Sinto tanto nojo, repulsa e fúria,

Sinto vontade de vomitar e escarrar em suas faces,

E em toda a humanidade;

Contudo o pior desprezo, desespero e ódio esperam-me em meu quarto.

Até Deus duvida de sua própria Existência, e de sua origem enigmática.

Nesse quesito, eu o entendo muito bem...

Onde está o Cálice da Existência onde estão diluídos com vinho todos os segredos e mistérios, da vida, do Mundo e do Universo?

Ânsia torturante fabricada pelo desejo de possuir o que não se tem,

de querer ter o que jamais existiu,

de sonhar em encontrar a ilusória Verdade de tudo.

Será que devo acabar com toda essa minha dor agora mesmo suicidando-me,

Ou devo continuar existindo?

Sim, é isso mesmo: Fui predestinado somente a existir e a pensar,

Jamais a viver toda a exuberante seiva da vida.

Quem, ou o quê, eu sou?

Sou uma Hipótese teorificada,

Sou uma Conjectura palpável;

Sou uma Miragem diante de meu próprio reflexo;

Sou uma Fábula escrita sei lá pelo quê, ou por quem;

Sou um Verbo inverbalizável.

Quero viver a vida sem saber que a vivo.

A minha cruz quase insuportável de se carregar

É não poder fechar os olhos da consciência para essas realidades factícias.

Meu corpo quer dormir, não acordar tão cedo;

Porém minha alma incendeia todo o meu ser com labaredas verbais de perguntas e dúvidas.

Acho que preciso ingerir algum tipo de veneno ou entorpecente para poder viver o caos da vida,

E para poder conviver com as demais pessoas.

Minha misantropia é para mim sagrada e frutífera.

Tenho calor interno suficiente para não querer, e nem sentir,

Vontade de está na presença desses bípedes estultos e ignóbeis,

Filhos legítimos da ignorância e da estupidez.

Quanto mais fujo de mim,

Mais eu encontro a mim próprio aonde quer que eu vá ou esteja.

O genuíno amor não consegue se exprimir inteiramente,

Senão não seria amor.

O amor é sempre algo incompleto,

Assim como todas as demais coisas da vida.

Amar é estar ausente de si mesmo,

Amar é não está mais satisfeito consigo próprio.

Toda a Vida é um breve momento, é um dia passageiro e fugaz;

E a sepultura é o nosso leito eterno.

Por tanto, meus irmãos revoltados e inconformados,

Bebamos mais e mais,

Para esquecermos-nos de si mesmos e de tudo.

Raciocinei veementemente até encontrar a verdade,

Achei-a, contudo a entendi menos ainda.

Por que então buscar sistemas inúteis de filosofias, religiões, dogmas,

Pseudo-certezas, convicções mendazes

e mais e mais idéias e definições,

Se o Erro é o destino de nossas vidas?

Tudo no mundo, na Vida e no Cosmos é controlado e regido

por erros e mentiras perfeitas.

A verdade é apenas uma idéia a qual não tem realidade em si mesma.

Crer é morrer,

Quem busca uma verdade busca um faraó para servir e ser escravo.

Pensar é duvidar,

Por isso duvido de tudo,

Duvido até de mim mesmo!

A fé é isto: o pensamento a querer enganar-se eternamente;

Quer na ilusão da Verdade, quer na desilusão.

Sou a Insânia da dor e do excesso de pensar,

Sobre o Livro ilegível e medonho entregue pelo mundo em minhas mãos.

Eu bebo compulsivamente todas as formas, todas as idéias, descobertas científicas,

Todos os mistérios e todos os horrores do mundo.

E que intensa azia de Existir queima meu estômago metafórico.

Eu queria nem viver e nem morrer,

Nem sentir e nem ficar sem sentimentos.

Sou o Ápice de todas as contradições.

O crime inexpiável de não ter razão,

de existir e fitar-me absurdamente que de fato existo.

Idéias e sentimentos desconexos transpiram de todas as partes de meu corpo hipotético.

Se é para me dá meias verdades,

Ou algumas certezas sobre determinadas coisas,

Fique então em silêncio, não me diga absolutamente nada.

Ou então algo ou alguém venha, e me explique a Verdade sobre tudo,

Ou então permaneçam todos calados;

Prefiro continuar inerte no templo de minha inconsciência consciente.

Sou um estranho irreconhecível até mesmo pelos meus próprios pensamentos.

Toda alegria que presencio me faz ter ódio,

Pois eu alegre não consigo ser.

Sinto em mim que a minha alma não tolera

Que alguém seja mais feliz do que eu,

Ou pelo menos até que eu consiga ser feliz.

Por isso mesmo, todo riso de alegria insulta-me por existir,

Pois eu decreto e sanciono que ninguém seja feliz

Enquanto eu primeiramente não for.

Não é egoísmo (ou talvez seja, sei lá...),

É apenas simplesmente o que eu sinto.

Ferve vulcanicamente em mim

Contra a causa da vida, do mundo e das pessoas,

Que me transformaram nesse algo inominável que hoje sou.

Pensar em dizer “Amo-te”,

Até isso me angustia,

Pois tal ação revelaria meus sentimentos sinceros

aos quais ninguém merece.

Contudo há uma luta incessante entre o que eu penso,

E o que eu sinto e desejo,

Nesta arena de sentimentos e idéias que se combatem

violentamente entre si.

Dormir para esquecer seria uma breve ilusão,

Seria mais uma fuga inútil,

Pois viver é conjunto de distintos métodos de fuga.

Só fui feliz quando não duvidava,

Quando inocentemente e infantilmente acreditava,

Quando delirava em ilusões agradáveis esta vida sádica.

O mistério da Existência é muito mais profundo

do que imaginei o vazio do mundo,

É muito mais imensa, gritante e sufocante a vacuidade indescritível de minha alma.

Que casa é essa? Que planeta é este? Afinal onde estou?

Tudo neste Universo factício é tão triste.

Todos os Caminhos somente nos levam

para o Abismo Transcendental do Nada.

Gilliard Alves Rodrigues

Acaraú, 27 de Junho de 2009

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 27/06/2009
Reeditado em 28/06/2009
Código do texto: T1670230
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