No Atellier do Artista
Foram quatro noites observando o pintor vestir de cores suas mulheres nuas.
Ele próprio a se despir e não. Quando sim, me olhava. Quando não, as tintas cobriam um seio, outro, um ventre.
Falávamos muito e por vezes o olhar de uma das mulheres parecia me censurar. Nestes momentos eu voltava ao copo de whisky, acendia um cigarro, olhava para ele e não lhe via. Uma fumaça espessa, de cigarros e charutos, nos separava, e, por algum tempo, o silêncio me desnudava.
Buscava alguma palavra que fizesse sentido.
Era necessário dizer que o azul não é uma cor sensual, enquanto sua espátula deslizava por pernas e ancas.
Seu prazer, ao transformar vaginas em flores, era tão indescritível que me intimidava. Minha timidez o divertia, e ele, subitamente, me convidou para pousar.
Prometi-lhe para o verão.
O verão não chegou e o pintor me esqueceu, em um canto qualquer de seu atellier.