Conversa a sós

Eu mesma acho uma graça patética em mim.

Que seria de mim se não me desse ao luxo do ridículo?

Se a primeira coisa que se perde junto com a saúde é a dignidade,

A primeira coisa que se perde quando se ama é o senso do ridículo.

Sei que tenho sido pateticamente ridícula, e que bom!

Eu posso ser, posso amar, posso tudo na minha solidão.

Permito-me o escândalo que você é em mim, porque tive a coragem de encarar a minha vida, minhas verdades concretas.

Verdades são verdades, cruéis, cruas, lindas, e nuas.

Desconheço verdades mascaradas, conheço sim mistérios humanos que em mim fazem morada.

Raízes que me seguram numa terra árida e longínqua, eu sei. Sei que corrói como ácido.

Aquele outro lugar no qual estive, por úmido e pegajoso que fosse tem algo que atrai mortalmente e de lá é difícil sair sem um certo pesar, já que lá estando para que voltar?

É fácil demais ficar ali naquele breu desterrado. Mas ainda que não entendam aquilo é salvação, uma forma ímpar de salvação, mas é.

Nem sei se voltei realmente ou se parte de mim ficou lá, e de lá manda notícias para mim e eu para aquilo, e que é aquilo? Vida, morte?

Ou aqui é a coisa que acontece e acontece sucessivamente?

Minhas questões não se resolvem, acabam por ser disso um acompanhamento.

Estou enlouquecida? Não de fato não, jamais estive em tanta lucidez, que lucidez é minha constante, não variante em momento algum.

Desapego era preciso, desapego total, mas a coisa humana em mim não permite. Tem os laços que me unem ao que não me é dado direito a rompê-los, certamente que morreria herege, destituída da graça e por mim mesma; ninguém é mais meu guardião que eu mesma.

Quem de mim chega, se não aqueles, que não sabem aonde vou? Não que eu tenha lançado pelos ares venenos nem horrores que são meus alimentos, mas uma monstruosidade humana afasta-me de todos. E não quero isso, nunca quis e por não querer foi exatamente que me aconteceu. Há quem precise de uma simplicidade, mesmo que falsa, mas que não há em mim. Ainda que eu renascesse traria em poeira o que sou, de onde quer que eu pudesse ressurgir.