Quando me convidas para dançar durante tempestades.
Não tenho medo de me ferir novamente. Te perder uma segunda vez, uma terceira ou uma centésima vez, não é te perder a primeira vez. É claro que poderei sofrer, mas não cairei em um abismo desconhecido como outrora, e por mais que eu caia novamente, eu já conheço tanto o caminho de ida como o de volta.
Quero voltar, mas entendo e acredito quando você diz que devemos ser comedidos. Não quero outra borrasca: intensa, mas passageira. Quero a chuva que começa fina e vai escurecendo co céu da tarde aos poucos, para aí então, desatar em tempestade. E depois que casas forem derrubadas, ruas alagadas e corações afogados, uma garoa perene continuará a molhar nossos rostos colados um no outro.
Todavia as vezes a chuva fina não trás a tempestade. Algumas vezes ela cessa logo depois de começar. O sol esquenta e sua poucas gotas evaporam, trazendo consigo um mormaço, quente, abafado e úmido, tal qual um coração sem um sentimento para chorar.
Hoje em dia temo mais o mormaço do que as tempestades. O mormaço deixa o dia moroso, calmo e aguniante, como uma tarde de domingo dentro de casa olhando para as paredes. Já as tempestades, com seus trovões e ventos ululantes me convidam para dançar à céu aberto. É claro que as tempestades derrubam a minha casa, alagam a minha rua e afogam o meu coração, porém eu não consigo recusar um convite teu para dançar.