Os Pés e o Mar

Sentada na praia, olhando o mar imenso, profundo, o meu olhar cansado alcança as ondas distantes, muito distantes, com seus dorsos brancos de espuma. São grandes, muito grandes, de uma grandeza bela e quase inatingível para os meus olhos. Levantam para o alto o surfista audaz, depois é um rebentar na praia contínuo e incessante. Correm pela areia e vêm mansinhas beijar-me os pés. Oh! mar, grande e misterioso, mar que generosamente mandas as tuas ondas calmamente acariciarem os meus pés, cansados de tanto caminhar. Cansadas das jornadas árduas de minha longa existência. Estes pés que foram bebês debatendo-se no colo da mãe, depois criancinhas começando a andar, meninos na escola jogando bola ou brincando de pega-pega, adolescentes indo em buscas de sonhos, adultos perseguindo um ideal, na maturidade, ágeis para seguirem os filhos; já vacilantes para acompanharem os netos e agora envelhecidos, trôpegos, octogenários e de tantas lutas, recebem as bençãos das águas deste mar eterno, na tarde que já declina. Obrigado mar, velho mar como eu sou, mas sempre jovem com eu fui.

Lucilia Cavalcanti
Enviado por Lucilia Cavalcanti em 05/09/2009
Reeditado em 29/09/2009
Código do texto: T1794608
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