Os Pés e o Mar
Sentada na praia, olhando o mar imenso, profundo, o meu olhar cansado alcança as ondas distantes, muito distantes, com seus dorsos brancos de espuma. São grandes, muito grandes, de uma grandeza bela e quase inatingível para os meus olhos. Levantam para o alto o surfista audaz, depois é um rebentar na praia contínuo e incessante. Correm pela areia e vêm mansinhas beijar-me os pés. Oh! mar, grande e misterioso, mar que generosamente mandas as tuas ondas calmamente acariciarem os meus pés, cansados de tanto caminhar. Cansadas das jornadas árduas de minha longa existência. Estes pés que foram bebês debatendo-se no colo da mãe, depois criancinhas começando a andar, meninos na escola jogando bola ou brincando de pega-pega, adolescentes indo em buscas de sonhos, adultos perseguindo um ideal, na maturidade, ágeis para seguirem os filhos; já vacilantes para acompanharem os netos e agora envelhecidos, trôpegos, octogenários e de tantas lutas, recebem as bençãos das águas deste mar eterno, na tarde que já declina. Obrigado mar, velho mar como eu sou, mas sempre jovem com eu fui.