O amanhã do hoje
Abro os braços para o nada, me abraça o infinito silencioso onde guardo fragmentos soltos
de sonhos e ilusões descoradas.
Quero a sorte de ter nos ressequidos segmentos do meu corpo algumas lembranças verdes do hoje, imagens fotográficas de instantes, prontas para dispararem na tela do amanhã.
Abro os olhos para o espelho de mim; me revelo sem máscaras e sem surpresas, sou o que espero ser. Me procuro mais além e só ansiedade gira na órbita dos meus olhares, muito aquém do alcance da minha visão dilatada de esperanças e miopemente enfraquecida pela fragilidade do tempo voraz.
Além do empate antipático das certezas e incertezas estão as juras amareladas; algumas cumpridas regiamente outras colocadas em patamares nunca alcançáveis..
Percebo que colecionei diálogos bobos, trocas mudas de olhares e silêncios tão povoados que encheriam estádios.
De que me valem as esperas, os pedidos de tempo, os atrasos propositais , as corridas atrás das horas...ah de que me valem as noites de insônia, os dias e noites cronometrados e as horas soltas dispersas?
Só sobram-me horas quebradas, aparadores vazios e um incontável desfile de emoções desarrumadas. Salta-me da boca mumúrios abafados, rolam pela face lágrimas endurecidas pelas frias palavras.
Hei de sentar-me ao relento bebendo brisas quando não mais o sopro da esperança lamber a minha pele amarrotada....sobrarão asas leves ou de plumagens encharcadas de versos.