O espelho

Síntese da Palavra

O redesdizer parahiperbólico do não-nada. Tal que tresrefuta o narcisicômico joyceniano de contra-surrealizar o literário em um vade-mécum legível em planta-baixa narrativa. Plectro sorressoador de plêiadas (não piadas) desimportadas e quase profundorustidas. O signiexpandificar do ma-non-tanto-mascarado eu.

O escafandro quer ver o mar

(...) e tal qual um sonho daquele que não se rende aos fatos da vida, ele viu, pela primeira vez, o ondulatório espumante significado de uma palavra: mar.

O assassinato plágico

São Paulo, 22 de outubro de 2009

Alguém não vacilou em afirmar que já se tornou instintivo

Jorge Luis Borges, A seita da fênix

O escritor João Coucaso Mallandrade, de 99 anos, foi encontrado morto em seu apartamento, ontem às 22h34min. A polícia se deparou com seu corpo esquartejado em 99 pedaços espalhados pelo apartamento; estava quase irreconhecível, não fosse o rosto que fora mantido intacto pelo assassino. A polícia suspeita da famosa escritora americana Sthephany Browncury que está passando uma temporada no Brasil para colher dados para seu novo romance: “O código dos Vampiros apaixonados”, que será situado em Copacabana.

O promotor público está investigando Browncury, pois esta havia sido publicamente acusada de plágio por Mallandrade. O escritor brasileiro havia aparecido em setembro em rede nacional para reclamar os direitos de seu texto “Síntese da Palavra” - publicado em 1953 pela editora Globo como prefácio do livro “Cartas a um jovem poeta” de Rainer Maria Rilke. Mallandrade julgava ter ocorrido plágio de seu texto no destacado final do famoso livro “O escafandro quer ver o mar” de Browncury, que possibilitou renome internacional a escritora. O caso repercutiu pelo mundo e as vendas da escritora haviam caído consideravelmente; do outro lado, o livro de Rilke havia sido reeditado e o prefácio de Mallandrade – antes substituído, em edições posteriores a de 53, pela introdução de Cecília Meirelles – voltara ao livro ganhando até uma ligeira ampliação que contava com uma pequena biografia de Mallandrade. Além disso, as vendas dos únicos dois livros do escritor, anteriormente pouco conhecido, haviam alavancado de maneira nunca vista antes.

Em sua defesa a escritora diz jamais ter lido o texto de Mallandrade – o que é consideravelmente plausível, afinal, o prefácio em questão só apareceu no livro de Rilke na edição brasileira. Na cena do crime foram encontrados, além da catana usada na partilha do corpo, um pouco de papoula e diversos textos ensangüentados de Kafka, Sartre, Calvino e Paulo Coelho espalhados pela casa; obviamente, tudo sem a menor evidência de impressões digitais.

O investigador conjectura que, além de aumentarem os processos de plágio e o próximo livro de Browncury ser um possível sucesso estrondoso, as evidências deste crime podem criar a suspeita de um segundo assassinato.

Lucas Paolo

Obs: A diagramação do texto ficou bem ruim nesta publicação. Não há recursos para aumentar uma letra (para criar um título) ou diminuir uma (para fazer um epígrafe). Mas acho que mesmo assim dá para entender as divisões.