DIAS DE ESPERANÇA
 
 
Chegou o verão, embora ainda se viva a primavera!
A passarinhada alegre com a sua algazarra matinal me acorda, e o bem-te-vi, o mais espalhafatoso, alardeia perto da minha janela o seu refrão repetitivo.
Com esses acordes silvestres e matutinos, eu sou levado pela imaginação até a presença dela nos caminhos do Bonja. Tudo ali é festivo, pela manhã, o sol banha majestosamente a floresta circundante, o regato como se fosse de prata líquida se escorrega pelas pedras vulcânicas, o inhambu pia estridente lá nas bandas das furnas. Mais uma vez a natureza se manifesta para receber agradecida ao novo dia que chega.
Gaia é homenageada com uma aurora especial e, em agradecimento, ela se veste com a roupagem da natureza, enfeitada e agitada com o bulício das suas criaturas.
Confesso entristecido que, ela não poderá sentir a profusão de aromas que se evolam dos campos e das relvas ainda molhadas pelas lágrimas da madrugada. Esse orvalho santo que refrescou na noite as suas quietas intimidades vegetais. Que pena! Ela também não poderá ouvir as melodias encantadoras dos pássaros, numa sinfonia que eles apresentam todas as manhãs, sem ao menos terem um único e simples instrumento musical, apenas as suas almas bordadas de gorjeios e harpas.
Na verdade essa mulher existe, mas continua desconhecida e ausente nesta manhã, apenas sinto os seus leves murmúrios na antecâmara do meu inconsciente.
E, se ali ela se alojou, eu quero acreditar que existe alguma intenção de caso pensado, pois para exercer e usar esse evento da transferência, ela, talvez esteja em busca de sonhos.
Ordeno-a para sair do meu inconsciente, para, junto comigo, apreciar as belezas inefáveis da Criação.
Assim obscurecida nessa íntima caverna, ela não poderá ver os entretons de uma aurora que acabou de se esparramar pelo horizonte leste, aonde os dias sempre se repetem e nascem.
 
 
 
 
 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 04/11/2009
Código do texto: T1905331