A mágica e maravilhosa viagem da vida
 
                Ele olhou pra mim com ar de sabedor de tudo, incisivo foi dizendo:
                - “Nunca vi ninguém fazer muro assim!”
               Confesso que por uns segundos também fiquei indeciso. Mas logo veio as recordações, os sonhos, as vivências e crenças das coisas boas que vivi.
               Expliquei que colocasse um tijolo na linha horizontal do muro, logo a seguir um bloco de cimento daqueles grandes, vazios, sem as separações, em sentido transversal. Estranho mesmo, mas, em colocações alternadas, fieiras sobre fieiras, ergue-se um muro.
               Um muro com espaços para plantar e florir.
               Com os olhinhos avermelhados pela poeira ele me olhava e ouvia.
               - “Quando cheguei nessa cidade grande só tive muros para me barrar. Uns altos e tão instransponíveis que só me restava sentar, encostar-me nele e orar. Momentos depois juntar forças, acreditar e tentar mais uma vez. Uns eu transpus, outros ainda me bloqueiam.”
              - “Mas por que fazer esse muro assim?”
               Porque hoje vejo meus dois netinhos, Karô e Lorena, respondi:
              – “Agora eles começaram a andar com suas pernas. Começam a descobrir suas sombras e seus pés. Quero deixar para ambos um símbolo do quanto acredito e torço para que eles vençam as dificuldades que encontrarão pela vida.”
               Certamente meus netos toparão também com muros na mágica e maravilhosa viagem da vida, mas até lá então, já irão se acostumando e brincado nesse muro vivo dos dois lados, que faço hoje e de onde conhecerão o que são os espinhos e as flores.
              Um muro ecológico. 
              Um muro de amor e de flores.