A ASA DA RASGA-MORTALHA

O sabor da noite

que se esconde no cerrar dos olhos

vem se derramar nos sonhos

estremecendo-os

Roubando a delícia da calma

a serenidade do silêncio

a sensatez da paz.

Quando a manhã se revela

a alma inquieta se rebela e grita

pela noite mal dormida

e a violência deflagrada

pelos fantasmas dos homens e da mente.

Enquanto isso,

nesse santo rosto

tudo ressoa em harmonia.

Quisera um ser, sensivel o bastante,

pudesse ver

a arritimia sobressaltada nesses olhos

que se calam perante a vida

e adoecem perante a dor

que o coração não tem sido capaz de curar.

Quisera esse ser,

num gesto de luz,

pusesse as mãos sobre essas duas contas

e, por elas,

aspirasse da memória

a poeira da insanidade que começou a se espalhar.

D.V.

22/02/97

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