PIERROT APOLÍNEO

Como pessoa, ser humano dotado de cadeia genética, pleiteio minha angularidade aos noventa.E para tal simetria dispenso pois toda estripulia que o popular inventa.

Nem extremo, nem ressentimento. Lençóis bem dobrados ao centro. Dois litros d´água por dia fingem saciar minh’ auto - tirania. Ler sempre um clássico por semana e chá de ervas manter - me--ão a mente sana. Escovar bem os dentes, pôr colírio nos olhos, soro nas lentes e conserva-las longe de emoções profanas.

Sorrir faz parte, mas não se deve exagerar. Gargalhar é perda de controle da arte que se pode evitar.

Mimetizo a realidade, sou palhaço, sou fingidor. Finjo estar à vontade quando em verdade a tensão pela perfeita química confere à minha mímica um jeito de anular seu valor.

Ao final de cada jornada o povo me persegue querendo ao Pierrot elogiar; porém, a hora de sentir-me enobrecido e por tantos dizeres, envaidecido, essa hora já não há.

Minha vida: uma praça de eterna disciplina na qual me mostro, declamo e como descanso da rotina, não possuo sequer uma satisfação interna, íntima. Não amo.

Mas hoje já muito divaguei. Amanhã cedo acordarei e verás do que sou capaz. Faço quem quero chorar e sorrir através de meu trejeito fugaz , mas - alto lá- não devo admitir que meu próprio trabalho venha me dispersar!

Se acaso vês uma lágrima eternizada em meu rosto - TonterIas da plasticidade...mas a brancura de meus trajes, essa sim, é olhar faminto por angularidade, sempre à espreita para me avisar: “no dia de tua exatidão, minha alvura tornar-se –á...”do mais- nunca entendi com precisão- não consegui decifrar...

Juliana Santiago
Enviado por Juliana Santiago em 24/01/2010
Código do texto: T2047573
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