CONTRA-SENSO

CONTRA-SENSO

Ainda pulsa o peito,

A alma ainda vibra...

Veloz, ainda corre o sangue.

Ainda estou vivo,

O dia ainda nasce e morre...

Exuberante espetáculo

Que já não me emociona.

Já preciso da máscara

Para me verem sorrir.

A viola ficou triste.

Só aceita tons menores,

Os mais tristes.

Cordas feridas que cantam

Enquanto choram.

Das marcas que deixei

No lombo desta terra

Ainda me orgulho.

Outras maiores, porém,

Trago hoje na alma.

O látego da saudade

Castiga-me inclemente.

Cada lembrança é um golpe,

Cada dia é um flagelo,

Cada noite, uma chaga.

Cantador calado...

Violeiro amuado

Hoje sou o contra-senso:

O corpo ainda vive

Enquanto a alma está morta.

Júlio Marques
Enviado por Júlio Marques em 06/02/2010
Reeditado em 13/11/2012
Código do texto: T2072096
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