SEM PALAVRAS

A inspiração fugiu

Já não encontro esquinas perdidas

Nas ruas da minha poesia

Está tudo apagado e a produção é um risco

Não me arrisco...

Breve eclodirá a bomba dos desafetos

E, no meu ventre tenho um feto

Breve morrerá...

Pobre famigerado

Sem pai, mãe, sem passado

Não nasceu e não pode ser velado...

A inspiração não veio

Morreu num buraco feio e úmido

Com frio, com fome, com medo de nascer, da escuridão da noite

Sentindo os açoites que lhe dera a vida...

Nem sequer fechou a ferida

Que guarda há muito no peito

Não terá jeito?

Coitada da palavra perdida

Desceu no eito do caminho

Já não encontra o ninho, nem um pergaminho no afago das páginas...

Júlia Rocha 23/07/2002

Julia Rocha
Enviado por Julia Rocha em 19/02/2010
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