O CANTO DO RIO II

O som calmo e tranquilo das águas que durante a noite desciam o rio, já cedinho era atropelado pelos risos e algazarras de várias crianças que invadiam o sossegado Pardinho para brincar.

- "Vamos rápido, pega a bóia! Era o nosso barco. – “Leva a bola também, vamos jogar”!

A descida era mais que divertida, guardava um misterioso aventurar-se pelas pedras e corredeiras, alguns joelhos ralados e histórias prá contar.

A imaginação sempre nos tomava de assalto num certo trecho mais profundo. Ficávamos ali a fantasiar sobre que estranho mundo havia naquele lugar.

O canto do rio era alegre nas tardes de verão... Misturava-se com risadas e gritos das mães aturdidas de tanta preocupação. (Parece que as mães não tiveram infância?!).

No rio nem tudo era permitido. Para baixo, tudo bem, para cima nem sonhando... ali um buraco enorme tem.

Na areia, do outro lado três cruzinhas sem flores... Rodrigo, Roberto e Afonso foram as únicas companhias dos peixes desde que eu tinha oito anos.

Ninguém ria, ninguém brincava. Ninguém descida de bóia... O canto do rio ficara melancólico e triste por vários dias. O rio também chorava.

O rio fora interditado. Interditado também ficou meu coração porque meus amigos nunca foram encontrados.

Lantejoulas em forma de escamas surpreendidas pelo sol do fim da tarde saltitavam e brilhavam sobre as águas esmeraldas. Águas que ainda guardam lágrimas e muitos risos...lembranças de um rio que cantava.

Vento de Outono
Enviado por Vento de Outono em 24/02/2010
Código do texto: T2104688
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