Mal de cidade grande
Estou sempre sendo roubada.
Não um roubo metropolitano, físico, duro (apesar de já tê-lo sofrido). Um que dói muito mais. Aquele em que as pessoas roubam coisas que lhe são muito mais caras, que te servem muito mais e que não são recuperáveis.
Roubam minhas idéias, meus sonhos, mesmo antes de saberem que eles são meus, e aí não há pra quem reclamar. Roubam meu futuro, quando eu nem sei viver o presente.
Roubam aquela coragem que eu tinha; roubam até aquele pensamento conformista, mas que ajudava a superar, de que se está acontecendo tudo isso naquela hora, era porque vinha coisa boa pra compensar.
Roubaram minha infância, e como se já não fosse petulância o bastante, tentam me devolvê-la na hora em que já me forcei a ser adulta.
Roubam minhas pequenas oportunidades de felicidade... e pra quê?
No final das contas, elas só cabiam em mim...