A menina que fui...

A menina que fui
trago em mim agora
e a vejo ainda mais nítida
do que a via outrora
Lá, nos idos há muito tempo
não me apercebia
tão somente vivia
nos meus sonhos infantis
nos meus desejos primaveris

E não tinha de mim
a noção do que hoje
posso ver

Quando apenas tramava
em minha mente o futuro
e traçava no coração
o amor mais puro
eu era apenas uma garotinha
que preferia viver o ideal
que fugia do real
até quando pulava amarelinha

Quantas fantasias engendradas
quantas vidas vividas nos livros
que lia!
Eu era muitas
plural
e ao mesmo tempo
queria tanto ser igual
àquelas menininhas casadoiras
que já em tenra idade
bordavam
teciam
tal qual Penélope esperançosa
aguardando um Ulisses qualquer

E quem disse que a menina foi embora?
Volta e meia a reencontro no espelho
me olhando à esguelha
me assaltando o presente
como a dizer:
Eu sou você sempre
o seu passado e o seu presente
pra que não se esqueça
da alegria do sonho
pra que não tente ser
o que todos são
e nem abandone a ilusão
mesmo que os dias sejam outros
e que a rua não seja mais
um ponto de encontro
como antigamente


Então a mulher madura
se vê repentinamente
num sorriso brejeiro
com duas tranças
com belos laços de fita branca
E
quem acredita?
Me ponho ainda mais bonita
volto a crer
em duendes, fadas e bruxas
e na poção mágica do Bem
"Espelho, espelho meu,
existe alguém mais feliz do que eu?"
amarilia
Enviado por amarilia em 26/04/2010
Reeditado em 03/09/2014
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